Entrevista a David Carvalho Martins, Managing Partner da DCM | Littler, para o Jornal Económico – Especial Futuro do Trabalho (revista física).
O trabalho mudou. O teletrabalho e os modelos híbridos vieram para ficar. Existem outras realidades emergentes, como o pagamento de remunerações ou de benefícios em criptomoedas, o recurso à inteligência artificial e aos algoritmos e, ainda, o exercício de atividades laborais no metaverso.
Hoje, é cada vez mais comum trabalhar a partir de Portugal para o resto do Mundo. Muitos escolhem Portugal para viver. Outros regressam ao seu país Natal. Estes novos modelos de trabalho podem contribuir, também, para o combate à desertificação do interior do país, bem como promover o descongestionamento dos grandes centros urbanos. Não basta uma lei laboral amiga do trabalho do futuro. É necessário assegurar, ainda, a descentralização dos serviços essenciais, como redes de transporte, hospitais e escolas.
Neste novo mundo laboral, a inclusão, a diversidade e a conciliação da vida pessoal com a vida profissional – a qual pressupõe a flexibilidade dos tempos de trabalho – são valores cada vez mais seguros e decisivos.
A articulação dos novos modelos de trabalho com estes valores constitui o fermento de programas e políticas de sucesso de atração e promoção do talento nas organizações laborais. Uma lei laboral amiga do futuro do trabalho não pode querer regular tudo, proteger apenas um dos lados da relação laboral (o trabalhador), esquecendo que do outro lado existem igualmente pessoas dignas de tutela e que merecem atenção, na medida em que investem e criam as condições para a criação de emprego. Será um pouco ingénuo acreditar que sobrecarregar, burocratizar e tornar mais rígida a relação laboral é um meio necessário para criar empregos sólidos e duradouros.
Uma lei laboral amiga do futuro do trabalho não pode ignorar as dificuldades e desafios das micro e pequenas empresas, bem como dos indivíduos e pequenos empresários que querem investir e criar riqueza.
O futuro do trabalho passa similarmente pela estabilidade legislativa, sem prejuízo das alterações cirúrgicas e prudentes que, em cada momento, se revelem absolutamente essenciais.
