Após décadas em declínio, os Estados Unidos viram 2022 ser o ano do ressurgimento da luta laboral e do interesse por ações sindicais.
As Empresas deparam-se, agora, com um novo modelo de reivindicação: ações dominadas por millennials não filiados nos sindicatos tradicionais.
Os dois anos de pandemia poderão ter ditado o ponto de rutura para muitos trabalhadores. Os impactos que ditaram uma inflação crescente e salários que não acompanham esse crescimento. De outro modo, os impactos sociais e psicológicos alargam as pretensões a fatores não financeiros, pelo que cada vez mais se exigem melhores condições de trabalho que respeitem uma nova abordagem na dinâmica trabalho e vida pessoal.
Surpreendentemente, o objetivo das campanhas organizativas é a sindicalização e não apenas a abertura de negociações internas entre empregadores e trabalhadores.
Inicialmente, os movimentos trabalhistas tomaram expressão com a “The Great Resignation”, termo criado pelo Dr. Anthony Klotz, para associar à alta taxa de demissões de trabalhadores individuais após a pandemia. O relatório do Bureau of Labor Statistics indica uma percentagem recorde de 2,9% de pessoas empregadas que deixaram os seus trabalhos em agosto de 2021, o equivalente a 4,3 milhões de demissões. Também demonstrou que as vagas de emprego diminuíram, ou seja, os trabalhadores não se demitem por haver muitas oportunidades no mercado de trabalho, mas sim por não quererem compactuar mais com a falta de atenção e falta de condições para flexibilizar a vida íntima e profissional.
Em conjunto com esta corrente de acontecimentos, surge uma nova onda de greves. Várias empresas americanas estão a ser afetadas por greves organizadas por trabalhadores, que pretendem realizar votações para a sindicalização. Tem-se observado que os trabalhadores se unem de formas diretas e indiretas, recorrendo a meios tecnológicos onde tiram o máximo partido dos meios de comunicação online e redes sociais, numa fuga ao esquema tradicional observado nos anos 40 e 50.
A reação corporativa passa por combinar os esforços da fação republicana, de advogados e consultores de modo a fortalecer os seus interesses de exploração e controlo junto do governo de forma a aliar às políticas do país. Em conjunto, auxiliam-se também na massificação de campanhas para desencorajar os trabalhadores a se organizarem e a promoverem acordos internos de empresa que sirvam os interesses mútuos das partes conflituantes, de modo a fomentar uma cultura positiva no local de trabalho.
Em termos legislativos, enquanto os grupos empresariais pressionam os democratas a enfraquecer as medidas pró-trabalho e a desenvolver leis anti-union incluídas na lei Build Back Better, há congressistas a tentar fortalecer ativamente as leis laborais federais atuais, como exemplo, os democratas pretendem investir o National Labor Relations Board de poder para impor multas às empresas que violem as leis laborais e criar maior proteção aos trabalhadores.
Ainda assim, a representação sindical nos Estados Unidos é baixa, representando apenas 12% dos trabalhadores.
Poderá registar-se uma disseminação ou “contágio” de ações coletivas dentro e fora dos Estados Unidos.
Cabe, por isso, ponderar em que medida as empresas se podem organizar e preparar para novas fórmulas sindicais ou de atuação articulada de trabalhadores da empresa ou do sector de atividade.
Estamos perante o fim do sindicalismo clássico? É uma nova forma de sindicalismo? Estamos preparados?
Joana Vaz Silva @ DCM | Littler