Volvidos que estão mais de dois anos de pandemia e do forçado uso de tecnologias em contexto laboral, começam a vir à tona os efeitos perversos do uso destes meios telemáticos nas relações de trabalho.
Um estudo da Nova School of Business and Economics (Nova SBE) – Tecnostress: uso da tecnologia e bem-estar no contexto do trabalho –, revelou que o uso destes meios informatizados em contexto de trabalho quebra em larga medida as fronteiras que separam a vida privada e a vida profissional.
Debruça-se o estudo sobre dois conceitos inovadores no universo laboral: tecno-sobrecarga e tecno-invasão, traduzindo, respetivamente, a sensação de estar obrigado a trabalhar mais e de forma mais rápida e a sensação de estar contactável a todo o momento e em qualquer lugar.
Revela a população inquirida que, devido à “infolaboralização” do trabalho, passam cada vez menos tempo com a família, mantendo, muitas das vezes ligação constante ao trabalho, ainda que em períodos de férias e descanso, classificando como uma verdadeira invasão da sua esfera pessoal e familiar.
Resulta do referido estudo que, uma grande percentagem dos trabalhadores ativos, laboram mais depressa, motivado pela sobrecarga do volume de trabalho que estes meios de comunicação propiciam no contacto em tempo real com clientes, excedendo limites e comprometendo o bem estar do trabalho.
Muitos dos trabalhadores tiveram de se adaptar, de forma drástica, sem a respetiva formação e aprendizagem, a estes instrumentos e às novas realidades, mudando por completo os hábitos de trabalho que antes estavam estandardizados.
Com alguma curiosidade, são os homens que apresentam um nível de tecnostress maior por comparação às mulheres, revelando-se o universo dos mais jovens (menos de 24 anos), como aquele onde a intrusão dos meios informatizados é menos “tóxico” à vida pessoal.
Estando o stress com o uso das tecnologias associado à exaustão emocional e a queixas físicas dos trabalhadores, que impactos poderá ter o tecnostress em matéria de saúde e segurança no trabalho? Será o tecnostress a próxima doença profissional?
Crê-se que será necessária (i) a criação de legislação laboral capaz de fazer face à sobrecarga e à invasão no uso das tecnologias de informação e comunicação; (ii) formação às entidades empregadoras sobre os impactos negativos e a cultura do always on; (iii) fomentar a criação de métodos de trabalho que permitam uma conciliação da vida privada com a vida profissional mais efetiva.
Gonçalo Asper Caro @ DCM | Littler