Depois do conceito de Quiet Quitting se ter tornado viral, surgiu uma nova referência a um conceito laboral – o Quiet Firing.
Contudo, a ideia de Quiet Firing (ou despedimento silencioso) não é nova no universo laboral, remontando-nos para algumas das lições mais básicas de Direito do Trabalho.
Ao contrário do Quiet Quitting, no qual o trabalhador “desiste do trabalho”, no Quiet Firing é o empregador que desiste d0 trabalhador, alheando-se às suas obrigações, não prestando o apoio e orientação adequados, até que este se sinta “abandonado” e seja levado ao despedimento.
Ora, na maioria das vezes, este é um fenómeno que ocorre quando as chefias evitam determinadas conversas, quitando-se à resolução de questões fundamentais do dia-a-dia laboral. Consequentemente, assiste-se a uma menor distribuição de trabalho ao trabalhador em questão, com a adjudicação de tarefas que não correspondem ao nível das suas competências e conhecimento da profissão, levando a uma posição de estagnação, que resulta num clima de insatisfação.
O que verdadeiramente está aqui em causa é a comunicação (ou a sua falta) entre empregador e trabalhador que, não só prejudica o ambiente organizacional, assim como desgasta uma relação jurídica especialmente caracterizada pelo pressuposto da confiança.
Na verdade, esta é uma forma de contornar as questões desafiantes das relações jurídico-laborais, evitando a complexidade da sua resolução através da adoção de conversas one-on-one, com a identificação das fragilidades na execução da prestação laboral, e a exposição de críticas construtivas com vista ao aperfeiçoamento do trabalhador e consequente evolução na carreira.
De notar que a mudança do paradigma laboral, na sequência da pandemia causada pela Covid-19, com o maior número de trabalhadores em regime de teletrabalho (ou em regimes híbridos) e, nesse sentido, fisicamente mais distantes dos empregadores, poderá ser potenciador dos casos de Quiet Firing.
Isto porque, o facto de o trabalhador não se cruzar regularmente com o empregador nas suas instalações, poderá ajudar a que a comunicação seja evitada, facilitando o seu “esquecimento”.
Pelo exposto, e conscientes desta recente mudança de paradigma no mundo laboral, é essencial que estejamos atentos aos sinais de uma chefia distante e “silenciosa”, de forma a poder agir e responder a este fenómeno laboral.
José Maria Coelho @ DCM | Littler